segunda-feira, 2 de abril de 2012

Folha de S. Paulo: População das cidades-sedes já sente reflexos das obras para a Copa-14

BERNARDO ITRI - ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA E PORTO ALEGRE
EDUARDO OHATA - ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE, RIO E SALVADOR
MARIANA BASTOS - ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA, NATAL E RECIFE

RODRIGO MATTOS - ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA, CUIABÁ E MANAUS


Meia dúzia de moradores da região do entroncamento entre a rua Estrada Engenho da Pedra, Leopoldo Rego e Alfredo Barcelos, em Olaria, no Rio, conversam, tranquilos, ao redor da mesa de um bar.


Surpreende a tranquilidade, pois já foi publicado no "Diário Oficial " que aquela área será desapropriada para dar espaço à Transcarioca, obra de BRT (ônibus rápido) que ligará a Barra da Tijuca ao aeroporto do Galeão.


Um frequentador do bar, que se identificou como Fernando, justificou a tranquilidade: "As coisas mudaram ".


"As casas e prédios daqui valem muito. As obras não vão mais passar aqui [na rua Engenho da Pedra], elas foram lá para os lados da rua Uranos [no bairro de Ramos]. Não vai ser difícil você descobrir onde é, o lugar está cheio de faixas de protesto. "


Fica próxima ao Complexo do Alemão. E é uma amostra de como a Copa pode afetar a vida dos que moram no seu caminho. "Achávamos que a situação iria melhorar após a pacificação ", explica Fernando Paiva Santos, 40, economista, que tem um comércio em área a ser desapropriada.


Extra oficialmente, a prefeitura confirma a mudança de rota, que privilegia área mais abastada em detrimento a uma comunidade humilde. Faixas de protesto tentam conter os cartazes de "passa-se o ponto ". Os moradores da região se mobilizaram, foi aberto inquérito civil questionando o novo traçado.


A rota da Transcarioca era originalmente uma reta que se estendia da avenida Brasil até o bairro da Penha.


Agora, o formato do traçado foi alterado, aumentando consideravelmente o comprimento da obra.


A Prefeitura do Rio afirma que a mudança serviu para diminuir o número de desapropriações, e aponta que a rua Uranos abriga 220 imóveis desocupados.


Segundo a prefeitura, a realocação de pessoas que moravam em favelas para a construção da Transcarioca já totalizou 88 famílias.


Em Natal (RN), ocorre caso semelhante ao do Rio.


Um dos projetos de mobilidade urbana traz suspeitas de que o traçado de desapropriações favoreça grandes empreendimentos em detrimento de residências populares e de classe média.


Com o plano da prefeitura na mão, Marcos Reinaldo da Silva, membro da Associação Potiguar de Atingidos pela Copa, apontou quais imóveis seriam desapropriados e quais seriam poupados no alargamento da avenida Capitão-Mor Gouveia, que terá corredor de ônibus.


"O projeto prevê ampliação em 15 metros na largura da avenida.. A linha de desapropriação ora pende para o lado esquerdo da avenida, ora para o lado direito ", explica Marcos Reinaldo. "Dá para perceber que algumas empresas serão poupadas. "


Ele cita três exemplos: Guanabara e Cidade das Dunas, companhias de ônibus, e Marquise, empresa contratada pela própria prefeitura para fazer a coleta de lixo.


Segundo ele, o esboço prevê a desapropriação de 269 residências, 119 imóveis comerciais e 41 terrenos.


Outro que deve ser afetado é o Centro de Comercialização da Agricultura Familiar. A construção, de mais de R$ 3 milhões, foi bancada por verba estadual e federal.


O local jamais funcionou. No projeto mostrado por Marcos Reinaldo, o traçado das desapropriações da avenida passa sobre o imóvel.
"O projeto não vai acabar com o Centro de Comercialização de Agricultura Familiar ", garante Jean Valério, secretário municipal da Copa do Mundo em Natal.
Ele nega também que haja um traçado seletivo de desapropriações na avenida. "O projeto é linear e não escolhe que local vai desapropriar. A prefeitura vai readequar o plano para ter o mínimo de desapropriações. "


REMOÇÕES EM MASSA


Em Porto Alegre (RS), chama a atenção o número de famílias que terão de deixar suas casas por conta das obras da Copa-2014.


Levantamento do Comitê Popular de Porto Alegre estima que 6.000 famílias serão removidas.
"Não queremos que aconteça com a gente o que aconteceu com o Pinheirinho, em São Paulo ", diz José Araújo, líder dos moradores da Vila Cruzeiro, um dos bairros que mais devem ser afetados.


Segundo Araújo, uma das propostas da prefeitura é ceder casas em regiões distantes de onde a população vive atualmente. Haverá ainda a necessidade do pagamento de aluguel.


A Prefeitura de Porto Alegre diz que ainda não há uma estimativa de quantas famílias serão desapropriadas, mas que todas terão respaldo das autoridades.


Em Curitiba, cidade considerada modelo em transporte público, 1.500 famílias devem ser desapropriadas pelas obras de mobilidade.


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