sexta-feira, 26 de julho de 2013

Prefeitura de Porto Alegre troca seis por "meia dúzia" e prossegue com os despejos da Copa

Matéria do Portal Sul 21


Cinco famílias são retiradas de Santa Tereza para que local receba removidos da Avenida Tronco

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Na tarde da última quinta-feira (25), cinco famílias foram removidas da Rua Santa Cruz, no bairro Santa Tereza. Prefeitura alega que local receberá removidos da Avenida Tronco | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Iuri Müller
No dia seguinte, o chão ainda exibia rastros de paredes derrubadas, de móveis que ficaram para trás. Perto de um televisor antigo, era possível enxergar uma carta de amor com caligrafia adolescente. Na última quinta-feira (25), cinco famílias foram removidas da Rua Santa Cruz, no bairro Santa Tereza. A Prefeitura de Porto Alegre informa que o local servirá para reassentar moradores da Avenida Tronco, retirados da Vila Cruzeiro por conta da duplicação da via, uma das obras que integram as modificações urbanas para a Copa do Mundo de 2014.
Na tarde desta sexta-feira (26), Evandro Carvalho dos Santos voltou ao lugar em que, na véspera, as máquinas derrubaram cinco casas em poucos minutos. Evandro era um dos moradores da área que, há décadas, abrigava também um terreiro religioso de matriz africana. O terreno ainda estava no nome da antiga proprietária, a já falecida Marcelina Martins – conhecia no bairro como Mãe China de Ogum. Quatro das cinco famílias, segundo o Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB), haviam deixado o local previamente e optado pelo aluguel social.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“A verdade é que fomos postos para correr de onde morávamos”, afirma morador | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Uma delas, no entanto, preferiu permanecer. O diretor-adjunto do DEMHAB, Marcos Botelho, afirmou que “não foi a Prefeitura de Porto Alegre que escolheu a área da (rua) Santa Cruz para reassentar as famílias removidas pelas obras da Copa”. Segundo Botelho, a indicação partiu de líderes comunitários da região, formada por bairros como Cristal, Glória e Vila Cruzeiro. O advogado Onir Araújo, que auxiliou as famílias no processo de desapropriação, disse que “há vários terrenos vazios, já desapropriados, para reassentar as famílias da Avenida Tronco”. Segundo Araújo, a Prefeitura ainda não começou a construir nenhuma das moradias prometidas.
Antes de ser levada a cabo a remoção na tarde desta quinta-feira, o Comitê Popular da Copa afirmou ter indicado outros dezessete possíveis locais para receber os moradores da Vila Cruzeiro. A Prefeitura afirma que vinha negociando com as famílias da Rua Santa Cruz. “Houve diálogo e reuniões na Câmara de Vereadores. Quatro famílias optaram pelo aluguel social, outra disse que ficaria na área por questões partidárias”, disse Marcos Botelho.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Quatro das cinco famílias, segundo o Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB), haviam deixado o local previamente e optado pelo aluguel social | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Os herdeiros da antiga proprietária serão indenizados, segundo o DEMHAB, em um valor próximo a R$ 530 mil pela desapropriação. Para Evandro Carvalho dos Santos, o montante é muito menor do que o real valor do terreno – próximo a grandes casas do bairro Santa Tereza. O antigo morador do local se queixou do tratamento recebido no dia remoção. “Eles chegaram perto das nove horas da manhã e nos disseram que tínhamos três horas para sair de casa. Não houve conversa, estavam prontos para agir”, conta.
Onir Araújo questiona também a velocidade com que ocorreu a remoção: “por que a pressa para desapropriar aquelas cinco famílias negras, com um assentamento religioso de matriz africana dos mais antigos de Porto Alegre, num lugar em que está cheio de mansões por perto?”. Para o advogado, o episódio “foi a expressão categórica do racismo” do poder municipal. Por volta das quatro horas da tarde desta sexta-feira, moradores de ruas próximas caminhavam pelo terreno, já completamente desabitado, e procuravam por objetos e materiais que pudessem servir para as suas casas.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Maior parte das famílias da Avenida Tronco ainda espera por definições

Do Portal Sul 21

Por Ramiro Furquim/Sul21
Os moradores têm três alternativas na atual situação: recorrer ao aluguel social, optar pelo bônus moradia ou buscar a indenização do valor do atual imóvel | Por Ramiro Furquim/Sul21
Iuri Müller
Há meses, o cenário da Vila Cruzeiro, situada na Zona Sul de Porto Alegre, se modifica todos os dias. Na Avenida Moab Caldas, a popular Avenida Tronco, máquinas aparecem ao longo da via que está sendo duplicada. Algumas casas já foram derrubadas, outras ainda esperam pela avaliação do Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB). Ao todo, cerca de mil e quinhentas famílias precisarão ser removidas do local em que vivem hoje – e, até aqui, menos de um terço delas têm a situação regularizada.
O processo de remoção das famílias da Vila Cruzeiro sofre contestação por parte dos movimentos sociais e de alguns moradores. No início de julho, uma manifestação organizada pelo Bloco de Lutas pelo Transporte Público e o Comitê Popular da Copa percorreu as ruas do bairro, defendendo as garantias das famílias envolvidas na obra da Prefeitura. Criou-se, também, o programa “chave por chave”, ligado ao Comitê Popular, no qual a comunidade busca a certeza de ter uma nova habitação para, só então, deixar a atual residência.
Basta uma caminhada pelas proximidades da Avenida Tronco e algumas conversas com a vizinhança para perceber que muitos moradores demonstram certa insatisfação com o processo. Alguns se queixam das alternativas oferecidas pelo DEMHAB, outros da demora que o poder público estaria mostrando para depositar o valor das reparações. No entanto, também existe silêncio e desinformação: há quem esteja na rota da duplicação da via e não saiba, até agora, quando e como precisará deixar o local.
No mural, ofertas para Alvorada, Viamão e Imbé
Por Ramiro Furquim/Sul21
Nesta terça-feira (23), mais casas foram derrubadas na Avenida Tronco | Por Ramiro Furquim/Sul21
Para Marcos Botelho, diretor-adjunto do DEMHAB e responsável pela negociação com as famílias no projeto da Avenida Tronco, os moradores têm três alternativas na atual situação: recorrer ao aluguel social, de até R$ 500,00 por família, optar pelo bônus moradia, no valor de R$ 52.340,00, ou buscar a indenização do valor do atual imóvel. “O aluguel social é voltado para quem deseja permanecer no bairro. As famílias receberão este valor até que as moradias do programa Minha Casa, Minha Vida estejam prontas”, afirma Botelho.
No entanto, segundo o DEMHAB ainda não é possível apontar um prazo para a finalização das residências, que ainda não saíram do papel. O bônus moradia tem sido a saída mais procurada pelos moradores, que não permaneceriam nos bairros próximos à Vila Cruzeiro. “Ainda existe a opção de indenização. Temos o acordo com uma empresa terceirizada, que a partir de um laudo nos dá o valor comercial que deveremos pagar pelo imóvel”, conta Marcos Botelho.
O Departamento Municipal de Habitação conta com um escritório nas primeiras quadras da Avenida Tronco, direcionado para o projeto das remoções e a negociação com a comunidade da Vila Cruzeiro. Quem entra na sala logo se depara com um mural repleto de ofertas de imóveis – a maior parte deles, com valor muito próximo ao que se paga pelo bônus moradia. Alguns dos destinos sugeridos ficam em Porto Alegre, em bairros como Restinga e Rubem Berta. Entretanto, parte dos papeis aponta para cidades da Região Metropolitana, como Alvorada e Viamão, ou do litoral, como Imbé.
Moradores se queixam de atraso nos pagamentos e de incertezas nas negociações
Por Ramiro Furquim/Sul21
“Sem a garantia de outra casa, eu não saio daqui”, afirma moradora | Por Ramiro Furquim/Sul21
“Estou esperando há dois meses pelo pagamento do bônus moradia, que está muito atrasado. Eu tinha uma casa garantida na Glória, com contrato feito, e até agora não foi depositado o valor. Hoje vai vencer o terceiro prazo, e estou com medo de perder o negócio”. O relato é da diarista Therezinha da Silva, que vive há mais de vinte e cinco anos na Avenida Tronco. Além da demora para receber o dinheiro, ela lamenta a falta de diálogo com representantes da Prefeitura.
Marcos Botelho justifica possíveis atrasos nos pagamentos: “o bônus moradia é uma lei específica que foi aprovada pela Câmara. Para ser aprovado(o depósito do valor) é preciso uma série de documentos, e em alguns casos há dívidas grandes que inviabilizam a entrega”. Therezinha da Silva, como outras moradoras, afirma que não irá optar pelo aluguel social, alternativa que seria demasiado incerta. “Sem a garantia de outra casa, eu não saio daqui”, defende-se.
A poucos metros dali, Teresa Alves observava na calçada se alguém nas redondezas poderia solucionar o seu problema – a casa que fica exatamente ao lado da sua havia sido derrubada na véspera, e desde então Teresa ficou sem água. Com a ação das máquinas, alguns canos foram quebrados. A idosa, de mais de setenta anos, também precisará buscar outro destino. A duplicação da Avenida Tronco não prevê a continuidade do sobrado no local em que está há quase quarenta anos. “Assim como eles têm o compromisso de derrubar, precisam aparecer aqui para conversar com a gente”, diz. Teresa afirma esperar há dez dias a visita da Prefeitura para avaliar a sua casa, o que não ocorreu até a última terça-feira (23).
Marcos Botelho garante que o DEMHAB trabalha “com o convencimento”, para que todas as famílias removidas saiam com “segurança e garantias”. “O tempo desta remoção é o tempo destas famílias. Elas optam pelo tempo de convencimento delas, e nós temos que dar muita informação para que façam a melhor escolha”, afirma. Até o dia 23 de julho, 330 famílias optaram pelo bônus moradia, 65 pelo recebimento do aluguel social e outras 60 pelo processo de indenização. Outras mil famílias estariam, portanto, com a situação indefinida. As informações são do próprio DEMHAB.

sábado, 20 de julho de 2013

Manifesto dos Atletas pela Cidadania crítica gestão de megaeventos no Brasil.

A Associação Atletas pela Cidadania, lançou no dia 17/07 um manifesto sobre os megaeventos esportivos que aponta a falta de legados para o país.

A entidade é hoje presidida por Ana Moser e dela fazem parte esportistas como Mauro Silva, Cafu, Raí, Lars Grael, Magic Paula, Fernando Meligeni, Gustavo Borges, Joaquim Cruz e muitos outros

Leia abaixo o manifesto na íntegra, que procura ecoar a voz das ruas nos protestos de junho que abalaram o Brasil:

“Há mais de dois anos, a associação Atletas pela Cidadania vem tentando chamar a atenção do governo para a importância de uma agenda de um legado dos grandes eventos esportivos.

Copa e Olimpíadas têm um valor inegável para o país que as recebe, mas somente se tornam uma oportunidade efetiva quando a prioridade do interesse público é a regra e quando existam propostas concretas de Legado Esportivo e Social.

O interesse público e a transparência têm que prevalecer em todas as ações: nas obras, construções, intervenções sociais ou investimentos públicos e privados. Mais do que isso: todos os recursos gerados pelos eventos devem ser destinados ao desenvolvimento social e econômico do país, chegando de forma positiva na vida das pessoas.

Nós, Atletas pela Cidadania, somos contra a destinação de recursos públicos para benesse de alguns, as remoções que violam os direitos humanos, a corrupção e a falta de transparência nas decisões e nas contas. Tudo isso é contra o espírito e os valores do Esporte.

Acreditamos nos valores positivos do Esporte e sabemos do seu impacto no desenvolvimento do país. O Esporte é direito de todos os brasileiros. Melhora a saúde e a qualidade de vida, diminui a evasão escolar, aumenta o desempenho dos alunos.

Repetimos: há mais de dois anos apresentamos uma agenda positiva ao país, com dois pontos centrais para o Legado Esportivo e Social da Copa e das Olimpíadas: o Esporte acessível a todos os brasileiros e a urgente revisão do Sistema Esportivo Nacional. As diretrizes são claras. Limitar o mandato de dirigentes esportivos, definir os papéis e integrar os entes federativos, abrir à participação democrática de atletas, qualificar educadores e profissionais esportivos permanentemente, ampliar a infraestrutura esportiva pública.

São medidas para garantir o acesso ao Esporte para todas as pessoas, de norte a sul. Além de desenvolver a cultura esportiva no país e levar os benefícios do Esporte a todos. E como consequência natural, também melhorar o esporte de alto rendimento e suas conquistas.

Felizmente, o país hoje clama por mudanças. A agenda pública deve se balizar pelo que seu povo decide e não só pelo que seus governantes acreditam que sejam as prioridades. O dia a dia do poder tem afastado a máquina pública do interesse público. Vivemos uma crise da democracia representativa, cuja solução está em ouvir diretamente os detentores reais do poder – o povo.

Queremos ser ouvidos e por isso solicitamos:

1. A criação de um comitê interministerial para a reestruturação da legislação do sistema esportivo nacional e a criação de um Plano Nacional de Esporte. Com metas, estratégias, métricas de avaliação e resultados claros. Um comitê com participação da sociedade, com voz e voto, liderado pela Presidência da República.

2. Aprovação de legislação que dispõe sobre as condições necessárias para as entidades do Sistema Nacional de Esporte receberem recursos públicos (emenda nº à MP 612 e emenda nº à MP 615).

3.Total transparência dos investimentos e das apurações referentes às denúncias de violações de direitos humanos nos grandes eventos esportivos, como exploração sexual infantil, remoções sociais forçadas, sub-emprego”.

Informações sobre a Associação Atletas pela Cidadania você encontra em http://www.atletas.org.br/

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Greve Geral em Porto Alegre apoia ocupação da Câmara de Vereadores

Marcha pelas principais ruas de POA

Com a paralisação de todos os ônibus da Carris, em Porto Alegre, e a Trensurb a funcionar apenas entre as 5 e as 8 horas e as 17 e as 20 horas, previa-se uma grande Greve Geral para este 11 de Julho. Para além dos setores públicos, a paralisação dos transportes, que dificultou o acesso à cidade de Porto Alegre, provocou a abertura de poucos estabelecimentos privados. Para muitos, Porto Alegre estava mais vazia do que em feriado.

Um protesto teve lugar, por volta das 14h, em frente ao Grupo RBS. Cerca de 40 pessoas manifestaram-se contra o grupo empresarial e pela democratização dos meios de comunicação. O ato serviu ainda como denúncia da ligação da RBS à ditadura militar. Os militantes, maioritariamente do Levante Popular da Juventude, entoavam palavras de ordem, tocavam bateria e pintavam cartazes.

Ao ato em frente ao Grupo RBS juntaram-se duas outras marchas, nas quais já se identificavam bandeiras da CUT, do MST, de organizações estudantis, e faixas com reivindicações de mais investimentos em saúde e educação, jornada de trabalho de 40 horas semanais, entre outras pautas. Manifestantes colaram adesivos nas portas da sede do Grupo RBS pedindo o “plebiscito já” e a “taxação das grandes fortunas”.




As marchas convergiram e seguiram juntas numa manifestação tranquila até ao Largo Glênio Peres, onde se concentraram cerca de 2.000 pessoas. Num carro de som instalado no largo, fizeram-se ouvir as pautas reivindicadas e também muito apoio aos jovens que ainda ocupam a Câmara de Vereadores, desde quarta-feira, dia 10, pelo passe livre e pela abertura e publicação das contas das empresas públicas de ônibus.




Na rua estiveram diversos movimentos sociais e centrais sindicais, como a 
Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), do Sindicato dos Professores (Sinpro) e do Sindicato dos Farmacêuticos (Sindifars), MST, Levante Popular da Juventude, Comitê Popular da Copa, UNE, entre outros.

Câmara de Vereadores de POA ocupada

Num ato pacífico, acompanhado à distância pela Brigada Militar, não houve registo de nenhum incidente. Um show, por volta das 17h, fechou o ato no Glênio Peres. Alguns manifestantes seguiram para a Câmara ainda ocupada, para participar de uma assembleia aberta. 


Assembleia no pátio da Câmara de Vereadores
Fotos: Sindppd/RS

Carta Aberta do Bloco de Lutas com apoio ao Comitê Popular da Copa

O Bloco de Lutas divulgou uma Carta Aberta pelo Transporte 100% Público, motivo principal para o Ato de Ocupação do Plenário da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Na Carta consta apoio a outras causas, entre elas as que o Comitê Popular da Copa Porto Alegre vem travando suas lutas nos últimos três anos.

Abaixo o texto na íntegra, divulguem, compartilhem, fundamental para fortalecer todas esta lutas e manter a população informada diretamente pelo movimento.


Ocupação Câmara de Vereadores Porto Alegre,
noite de 10 de julho. 
Foto: Leandro Anton      

Do Bloco de Lutas.



Somos um movimento que não nasce do nada e tampouco são novidades as lutas que fizemos nos anos anteriores pela redução da tarifa. O Bloco de Lutas é formado por setores dos movimentos populares, que representam diversas concepções ideológicas e que prezam pela unidade em torno da pauta do transporte 100% público, respeitando a diversidade e prezando pela autonomia e independência de classe. Este ano o Bloco surge com mais unidade e logramos pelas forças das ruas e da indignação popular uma importante conquista de fazer cair 20 centavos injustamente cobrados na passagem da população de Porto Alegre.

A luta não é por centavos e tampouco somente em Porto Alegre, pois ganhamos um caráter nacional de mobilizações que extrapola a demanda do transporte público. Hoje, já são mais de dez cidades que anunciaram a redução da tarifa. Agora somos centenas de milhares de pessoas que ganhamos as ruas do Brasil lutando por nossos direitos. Os temas Copa e mais investimentos nas áreas sociais já são recorrente nas manifestações. A mesma massa popular que questiona o modelo de transporte questiona também os bilionários investimentos públicos em estádios elitizados, as remoções das famílias, o poder da FIFA e o Estado de Exceção que vai cercear os direitos da população.


No entanto, nossa luta pelo Passe Livre Municipal, rumo ao Transporte 100% Público sofreu uma grande derrota quando os vereadores de Porto Alegre negaram, por 20 votos a 15, a abertura da planilha de contas das empresas do transporte. Ao votar apenas a isenção do ISS, a Câmara de Vereadores protege as empresas e engana a população. Reduz a passagem, mas não os lucros dos empresários, ou seja, a população continua a pagar a conta com a isenção de impostos. Enquanto a “caixa-preta” das empresas não for aberta e o Passe Livre Municipal implementado, não vamos parar a luta.


Saudamos com entusiasmo a luta nacional de todos os de baixo que se levantam contra as péssimas condições de vida. Pedimos a solidariedade de toda a população de Porto Alegre, movimentos sociais e populares e convocamos a se somarem nesta luta. Afirmamos que continuaremos na Câmara de Vereadores e nas ruas avançando nas nossas conquistas.

Nossas reivindicações são:

1) Passe Livre, rumo ao transporte 100% Público


a. Implementação imediata do passe livre para estudantes, idosos e desempregados, rumo ao Transporte 100% público.
b. Abertura imediata das contas das empresas de ônibus.
c. Melhores condições de trabalho para a categoria dos rodoviários.

2) Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais


a. Instalação imediata de uma comissão para apurar os abusos da polícia, com  participação dos movimentos sociais e entidades da sociedade civis organizadas interessadas na pauta.
b. Prisão imediata dos grupos neonazistas que atuam no RS.
c. Fim do monitoramento dos movimentos sociais.
d. Cumprimento da identificação policial em todas suas fardas (coletes e casacos) garantindo fiscalização plena em relação a isso.
e. Pela instalação de inquérito para a apuração da arbitrária invasão da sede da Federação Anarquista Gaúcha, com identificação e punição dos responsáveis.
f. Retirada imediata dos inquéritos movidos contra os militantes que estão nas ruas lutando por direitos.

3) Contra os impactos da Copa


a. Contra o PLS 728/2011 (AI-6): protesto não é terrorismo!
b. Comissão para apurar as irregularidades nas obras da Copa do Mundo, como a remoção das famílias de suas casas e comunidades dentre outras mazelas, com participação dos movimentos sociais e sociedade civil organizada.
c. Não à zona de exclusão da Copa em torno dos estádios.
d. Pela revogação da Lei Geral da Copa que implementa o Estado de Exceção da FIFA.
e. Fim das remoções ilegais e forçosas das comunidades atingidas pelas obras da Copa.
f. Não à concessão de incentivos fiscais à máfia da bola.
g. Revisão da lei que exime a Prefeitura de Porto Alegre reassentar no mínimo 80% das famílias de comunidades atingidas por obras de interesse público dentro da própria microregião ou num raio de 2km da moradia atingida, para obras da Copa e Minha Casa Minha Vida.

4) Pela democratização dos Meios de Comunicação


a. Democratização, regulamentação e fim dos monopólios da grande mídia.
b. Corte pleno e imediato dos milhões de reais gastos em publicidade e propaganda com a RBS e suas afiliadas, bem como todos os veículos de comunicação de iniciativa privada.
c. Investigar através da Comissão Estadual da Verdade as relações entre a Ditadura Militar e o Grupo RBS.

5) Retomada da demarcação e titulação dos territórios indígenas e quilombolas


a. Arquivamento da PEC215/2000, que retira direitos de quilombolas e indígenas.
b. Titulação imediata dos quilombos Fidelix e Luis Guaranha(Areal) em POA-RS.
c. Publicação imediata dos relatórios técnicos de identificação ainda pendentes do Incra/RS.

6) Educação


a) Investimento de 35% do Orçamento para educação, como manda a legislação.
a) Todo apoio à luta dos professores pelo pagamento do piso nacional.


 José Araújo pronunciando-se na Assembleia Popular
da Ocupação da Câmara de Vereadores 
Vídeo: Leandro Anton  
 
 


Ocupação Câmara de Vereadores de Porto Alegre

Foto: Leandro Anton
Por volta das 18h do dia 10 de julho foi ocupado o plenário da Câmara de Vereadores de Porto Alegre pelo Bloco de Lutas. Mais de 200 pessoas estabeleceram uma Assembleia Popular a partir das 20h para apresentar as pautas de um Bloco em Lutas!



Foto: Leandro Anton
Post: Leandro Anton

sábado, 6 de julho de 2013

VÍDEOS da caminhada na Vila Cruzeiro e coletiva de imprensa

Vídeos produzidos pelo Coletivo Catarse da coletiva de imprensa concedida por integrantes do Comitê Popular da Copa e do Bloco de Luta pelo Transporte 100% Público sobre o ato de quinta-feira (5/7) na Vila Cruzeiro (VÍDEO 1) e a cobertura da manifestação (VÍDEO 2).

VÍDEO 1





VÍDEO 2

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Comitê Popular da Copa e Bloco de Lutas vão juntos à Vila Cruzeiro. Zero Hora não enxerga mobilização da periferia

Divulgamos aqui no blog uma boa análise, bastante crítica, do site Jornalismo B sobre a cobertura conservadora do Jornal Zero Hora (principal jornal do Grupo RBS) sobre o ato realizado pelo Comitê Popular da Copa, em parceria com o Bloco de Lutas do Transporte 100% Público.

Em meio às manifestações pelo passe livre e por transporte público e de qualidade, que ocorreram em todo o país e reuniram milhares em Porto Alegre, este ato na Vila Cruzeiro, pautando os impactos e os despejos da Copa do Mundo de 2014 na Capital gaúcha, teve um caráter diferenciado: o protesto, que até então se concentrava no centro da cidade, foi para a periferia - e justamente para uma região que tem atraído diversos olhares e interesses econômicos e políticos devido ao megaevento.  



Bloco de Lutas vai à Vila Cruzeiro, Zero Hora não enxerga mobilização da periferia

Publicado em  por 


O mais bonito, democrático e plural protesto dessa série de atos de junho e julho aconteceu em Porto Alegre na noite dessa quinta-feira. Os ativistas que já levaram a cabo dezenas de manifestações na região central da capital gaúcha dessa vez rumaram à periferia, à Vila Cruzeiro, onde se juntaram a centenas de moradores que estão a vias de serem expulsos de suas casas por uma obra relacionada à Copa do Mundo de 2014. Pelas ruas, outros moradores formavam um cordão humano, aplaudindo, acenando, cantando e dançando. Não foi o que Zero Hora viu.
Foto: Ramiro Furquim / Sul 21
Foto: Ramiro Furquim / Sul 21
Os repórteres de Zero Hora, antes de pelo menos dois deles serem escorraçados pelos manifestantes, acompanharam a marcha novamente sem identificação. Com crachás do Grupo RBS provavelmente não teriam sequer iniciado a caminhada. E novamente ficaram expostos os motivos do repúdio. A cobertura ao vivo feita pelo site do jornal Zero Hora deu o tom que seria seguido depois pela matéria publicada no mesmo site e reproduzida – com pequenas alterações – na versão impressa de sexta-feira. Para eles, a comunidade da Vila Cruzeiro pouco participou, foram poucos os manifestantes e mereceu especial atenção o suposto medo causado à comunidade pela mobilização.
Sobre a quantidade de participantes, a matéria é aberta falando em “sem multidão”, e no parágrafo seguinte apresenta números, sugerindo um resultado negativo: “A Brigada Militar calcula que 500 pessoas participaram do protesto, bem menos que as 3 mil que tinham confirmado presença por meio das redes sociais”. Ora, os repórteres de ZH ainda estavam no protesto quando os organizadores apresentaram seu cálculo: 3 mil. Além disso, os próprios repórteres presentes na marcha estavam lá para quê, se depois iriam utilizar apenas informações da Brigada Militar?
A respeito da participação dos moradores da Vila Cruzeiro, novamente Zero Hora viu algo muito diferente do que enxergaram, por exemplo, Jornalismo B e Sul 21. Diz ZH: “A passeata era feita, basicamente, por estudantes e sindicalistas que vivem fora da Cruzeiro e vieram da região central da cidade para organizar a caminhada. A comunidade da vila pouco se envolveu. Muitos moradores preferiram acompanhar a movimentação desde as janelas, acenando”. O que os outros veículos ressaltam – e o momento em que a manifestação se dividiu, com os moradores retornando, demonstrou com clareza – é que foram centenas de residentes da Cruzeiro caminhando junto com o Bloco de Lutas, e outras centenas ao seu redor, animados, emocionados.
Outro trecho da matéria busca, como já aconteceu em outros momentos, causar divisão dentro do Bloco (“A caminhada foi liderada por anarquistas. Eles se diferenciavam por usarem bandeiras vermelho e pretas e lenços negros sobre o rosto. Alguns falavam ao microfone em nome do Bloco de Lutas, outros pelo Comitê Popular da Copa. Duas garotas se destacavam nos discursos”) e fortalecer a sensação de temor pela violência – praticamente ausente da mobilização na Vila Cruzeiro (“Os ativistas planejavam caminhar até a prefeitura para exigir uma reunião entre o prefeito e os moradores. Até por isso, a marcha foi acompanhada pela BM. A cautela tinha razão de ser. Pelo menos três grupos de mascarados circulavam, causando nos moradores temor de vandalismo”). O que vimos, na verdade, foi todo o comércio aberto, e mais, feliz e simpático ao que se passava ali.
O medo que guardam aquelas pessoas não é do “vandalismo”, dos “mascarados”, dos anarquistas. O medo que carregam é da polícia que os agride, é do Estado que os violenta e os expulsa de casa, é da mídia que os criminaliza pelo simples fato de não terem nascido em berços dourados. É por ser parte fundamental desse processo de exclusão que Zero Hora não foi capaz de enxergar a emoção dos moradores da Cruzeiro por, ao menos por uma noite, terem sido lembrados e estarem em evidência.
Foi por isso que ZH não viu as dezenas de crianças e adolescentes que, em defesa de suas casas e de seus direitos, se juntaram à mobilização com seus cartazes e sua energia. Foi por isso que ZH não viu todas as nuances e dinâmicas próprias de um movimento social democrático e diverso e que, ao sair do centro em direção à periferia, expulsou de forma natural a direita que protestava “contra a corrupção” e “pelo nacionalismo”, tão agradável aos olhos da mídia das elites. Talvez estivesse de costas para o povo, procurando por um cartaz contra Dilma ou contra a corrupção, ou desesperados em busca de uma bandeira nacional ou de um vidro quebrado.

Movimentos elaboram Carta ao Prefeito e exigem respostas até o dia 10 de julho

Bloco de Lutas, Comitê Popular da Copa de Porto Alegre e moradores da Grande Cruzeiro elaboraram uma Carta ao Prefeito e exigem respostas as questões contidas no documento até o dia 10 de julho de 2013:

Exmo. Sr. José Fortunati,

Prefeito Municipal de Porto Alegre,

O Comitê Popular da Copa de Porto Alegre atua desde 2010. Fazemos parte da ANCOP – Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa junto com outros comitês locais sediados nas doze cidades que receberão os jogos para a Copa do Mundo FIFA 2014. Viemos acompanhando o tema, estudando seus impactos e trabalhado diretamente com as comunidades que estão sendo atingidas. Durante esse tempo vimos diversas declarações e ações descabidas do poder público municipal quanto ao tratamento destinado a população que vive nas áreas que estão sendo modificadas pelas as obras relacionadas a Copa na cidade.

Nós do Comitê Popular da Copa de Porto Alegre, as comunidades atingidas pelas obras de duplicação da Avenida Tronco, o Bloco de Lutas pelo Transporte Público e apoiadores, viemos, através desta carta, chamar atenção para alguns fatos e apresentar nossas reivindicações.

Considerando sua declaração de que todas as obras de mobilidade seriam retiradas da matriz de responsabilidades da Copa do Mundo de 2014, mas que nada mudaria em relação aos prazos de encerramento por conta do aumento de custos e da pressão das empresas licitadas em finalizar os trabalhos, numa clara e deliberada tentativa de neutralização das lutas que até então utilizam como significante as violações de direitos humanos decorrentes destas obras;

Considerando sua declaração na assembleia do Orçamento Participativo de 02 de maio de 2012, na qual se comprometeu em não remover as famílias atingidas pelas obras até que as casas novas estivessem prontas, assumindo assim a campanha Chave-por-chave, desde que o governo Federal mantivesse os recursos disponíveis após o período da Copa, não comprometendo sua execução;

Considerando as últimas declarações públicas do coordenador técnico das obras da Copa, Rogério Baú, de que “só um milagre pode fazer com que as obras da Copa acabem no prazo previsto”, considerando que o principal empecilho seriam as negociações com os moradores residentes em áreas atingidas e que a primeira parcela do recurso previsto para a duplicação da Av. Tronco, a obra prioritária para a cidade, foi liberada apenas no dia 8 de maio de 2013;

Considerando que até hoje não foi apresentado um Plano de Reassentamento construído participativamente, mas apenas uma sistematização das necessidades de remoção com algumas soluções não condizentes com a necessidade real das familias ou soluções que violam direitos humanos como o Aluguel Social ou, ainda, o precário Bônus Moradia que já não cumpre a lei que o criou;

O Comitê Popular da Copa de Porto Alegre, as comunidades atingidas pelas obras e seus apoiadores entendem que as pautas do diálogo são as seguintes:

Chave por Chave

Parada imediata das obras da Av. Tronco até que sejam extintas as violações de direitos e construção de um plano de reassentamento participativo;

Revisão da lei que exime a Prefeitura de Porto Alegre reassentar no mínimo 80% das famílias de comunidades atingidas por obras de interesse público dentro da própria microregião ou num raio de 2km da moradia atingida;

Parada imediata da concessão de aluguel social para obras de mobilidade;

Aumento imediato do bônus Moradia e revisão de seu processo de concessão;

Repasse de informações corretas para a população, reuniões com as lideranças diretamente atingidas e atas das reuniões já realizadas;

Aquisição imediata de área para construção de unidades habitacionais da tipologia CASAS na região.

Negociação junto ao governo do Estado para desapropriação por interesse público e imediata gravação de AEIS III para construção de CASA na área conhecida como Cocheiras do Jockey Clube.

Prefeito Fortunatti sancionar imediatamente o projeto de lei que torna AEIS, Área de proteção de ambiente natural e cultural, aprovada na quarta-feira 03 de julho de 2013 pela câmara de vereadores por unanimidade, a área da FASE no Morro Santa Teresa.

Afirmamos que:


Sua manobra para neutralizar o significante principal do movimento, retirando as obras da matriz de responsabilidade da Copa, não deu e não dará certo. Pelo contrário, somamos forças com as movimentações sociais que explodem, neste momento, por todo o Brasil, por cidades justas e participativas, cuja produção, crescimento e investimentos devem ser decididos pelo poder popular.

Outras iniciativas débeis como a articulação da SECOPA com seletas lideranças comunitárias locais para neutralizar na base tais movimentações, também perdem legitimidade e mínguam rapidamente.

Entendemos que a retirada das obras da matriz de responsabilidades significa, necessariamente, que as obras devem parar até que os casos de violação de direitos humanos, especialmente os de moradia digna, sejam extintos, e por outros motivos, a saber:

Primeiro, a lei que garantia que 80% da população removida deveria ficar na região foi colocada de cabeça pra baixo por conta da Copa do Mundo, hoje é necessário que apenas 20% fiquem. Com a retirada destas obras da matriz de responsabilidade, ela precisa ser revista, pois a desvinculação implica em retomá-la como de origem.

Segundo, a coação individual, caso a caso, das famílias atingidas, brutalmente realizado pelo escritório do Projeto Nova Tronco deve cessar imediatamente. Lá são negociados o Aluguel social e o Bônus Moradia. O Aluguel Social significa insegurança de não ter mais a casa em que se morou durante décadas, ter o aluguel pago pela prefeitura e confiar nesta estrutura de coação para esperar casas cuja construção sequer iniciou. O valor do Bônus Moradia, referenciado no valor desatualizado do MCMV não será mais aceito enquanto não for atualizado e a terra considerada no momento da avaliação do imóvel a ser desocupado.

Terceiro, o que foi ofertado foram apartamentos na região ou casas fora da região. E quem no cadastro sócio-econômico optou pela tipologia CASA na região, como fica? Tem de escolher entre a casa ou a região: não há opção que contemple seu modo de vida, suas necessidades laborais, sua relação de vizinhança, sua rede de apoio familiar e de serviços públicos. Não há opção que respeite os moradores neste caso, senhor prefeito. No entanto, apenas metade das áreas das cocheiras do Jóquei Clube seria suficiente. Ela foi entregue a empresa Multiplan para um empreendimento de quase 1 bilhão de reais, exatamente no momento em que buscávamos diálogo com os vereadores para propor sua utilização.

Porém, pelo enclausuramento dirigista de seu governo que somente visa neutraliza e não dialogar com o poder popular que está nas ruas, encabeçado pela sua equipe da “governança solidária”, não se cogita um plano no qual os atingidos pelas obras possam deliberar sobre suas próprias vidas em conjunto com o poder público.

A prova de que um diálogo sem coação ou jogo de neutralização é viável são os terrenos desapropriados indicados pela comunidade da Av. Tronco, que se tornaram AEIS em 24 de junho passado e foram garantidas para os moradores da região por emendas construídas por eles e pelo Comitê Popular da Copa, juntamente com alguns vereadores. Nossas cidades já são “inteligentes”, senhor prefeito, basta olhar do modo certo e não procurar lá fora o que está pulando em sua frente.

Afirmamos com toda clareza: nossa vontade é que as obras de mobilidade sejam executadas, mas que os moradores da região também sejam beneficiados com as novas condições de urbanidade. A necessidade real dos moradores atingidos pelas obras é que eles apenas saiam de suas casas quando as casas novas estiverem prontas. A necessidade está nas ruas, se apresenta em cada reunião que realizamos em cada conversa na porta de casa que passamos, nos momentos em que os moradores não estão com medo e conseguem falar o que realmente pensam sobre a situação a que foram submetidos em nome do desenvolvimento da sua própria cidade. A necessidade é Chave por Chave!

Diante do exposto, Prefeito José Fortunati, aguardaremos até 10 de julho de 2013 respostas as questões contidas no documento.

Comitê Popular da Copa de Porto Alegre

Porto Alegre, 04 de julho de 2013.

Da Copa eu abro mão: Movimentos sociais e moradores da periferia caminham juntos na Vila Cruzeiro


O Bloco de Luta pelo Transporte Público, que inclui movimentos sociais e juventudes partidárias e que coordena os protestos pelo passe livre no transporte público na cidade de Porto Alegre, caminhou ao lado da juventude da periferia, no ato de dia 4 de Julho, que partiu da Vila Cruzeiro e que foi construído em conjunto com o Comité Popular da Copa.

Coletiva de imprensa concedida 
pelo Comitê Popular e o Bloco de Luta
antes da mobilização
Mais de trezentas pessoas participaram de uma plenária, segunda-feira dia 1, de onde saiu a decisão de realizar o ato de dia 4, quinta-feira, na Avenida Tronco, região afetada por obras da prefeitura referentes à Copa do Mundo, em Porto Alegre. A plenária moveu-se pela descentralização do movimento, que deve envolver a periferia e os problemas sociais que estão associados. No caso da Vila Cruzeiro, onde se situa a Av. Tronco, trata-se de uma zona que será palco de diversas remoções.
Mais de mil pessoas se manifestaram nas ruas da Vila Cruzeiro, contra as remoções nos arredores da Av. Tronco e as consequências das obras para a Copa do Mundo de 2014, incluindo moradores que apoiaram o ato. Na avenida, muitas casas já foram demolidas e muitas famílias removidas.

Moradores da região, afetados pelas obras da Copa,
usaram a camiseta da Campanha Chave por Chave.
Crédito: Leandro Anton

A caminhada, animada pela juventude da Cruzeiro, passou também pelo bairro Cristal e terminou perto do Barra Shopping. A Brigada Militar acompanhou de perto a marcha, mas não há registo de nenhum incidente grave. CLIQUE AQUI para ver a matéria do Portal Sul 21 sobre a mobilização


Crédito: Leandro Anton

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Uma contribuição de Carlos Vainer para o debate sobre as grandes manifestações das últimas semanas

"Desnecessário dizer da importância das lutas e manifestações dos últimos dias. Elas expressam uma extraordinária vontade não apenas de mudar as políticas de transporte, educação, saúde, etc, como pretendem alguns analistas que buscam reduzir o significado dos acontecimentos dos últimos dias, mas de transformar de modo radical a sociedade brasileira e as formas de exercício do poder político."

Leia na íntegra o texto de Carlos Vainer acessando o link:

MEGA-EVENTOS, MEGA-NEGÓCIOS, MEGA-PROTESTOS: Uma Contribuição ao Debate sobre as Grandes Manifestações e as Perspectivas Políticas

Claudia Favaro, representante do Comitê Popular da Copa de Porto Alegre na articulação nacional, comenta o trabalho dos movimentos sociais e descreve os desafios em relação aos megaeventos no Rio Grande do Sul

Entrevista por: Ricardo Machado
Quem observa de fora pode imaginar que o Rio Grande do Sul é um Estado mais politizado onde as violações aos direitos humanos são menores e os abusos não ocorrem. Ledo engano. Apesar de ser o único cujos estádios não receberam recursos diretos do governo federal para suas obras – os próprios clubes são os responsáveis pelas dívidas –, as obras de mobilidade urbana estão no centro do debate social. “As violações se dão nas mais variadas esferas e uma das principais são as remoções forçadas em detrimento das obras de infraestrutura. Nosso cálculo aponta que mais de 200 mil pessoas serão removidas no Brasil em função dos megaeventos. Esse número dá conta também das pessoas que foram ameaçadas, mas que em algum momento realizaram resistência e o governo recuou”, esclarece Claudia Favaro, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. Para ela, podemos esperar pouco retorno dos investimentos realizados para o mundial e que a maior contribuição está relacionada à possibilidade de se desenvolver uma cultura do esporte como resgate à cidadania. “De resto é um grande negócio, uma venda de imagem de cidades, uma venda de insumos de construção civil, uma venda de territórios, uma venda de pessoas. São só trocas comerciais. Se o Brasil conseguisse valorizar sua cultura sem colocar mulher pelada e carnaval, poderia ter um retorno interessante para o país”, complementa.
Claudia Favaro, arquiteta e urbanista formada na Unisinos em 2008, trabalha com assessoria técnica a movimentos sociais, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Faz parte do Comitê Popular da Copa de Porto Alegre e é a representante do Rio Grande do Sul na articulação nacional dos comitês populares da Copa.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como nasceu o Comitê Popular da Copa?
Claudia Favaro – O comitê com este nome existe desde o final de 2010 e nasceu depois da luta e derrubada do projeto de lei que tentava alienar a área do Morro Santa Tereza, em Porto Alegre, por um valor irrisório, que criou toda uma mobilização popular na cidade, sobretudo relacionado aos moradores da região, e foi então que os movimentos sociais começaram a se organizar. Depois, quando saiu a matriz de responsabilidades, entendemos que próximo desse local estavam ocorrendo situações parecidas, de desapropriação e remoções, que foi o que nos levou a discutir essas questões da Copa. Desde então o processo vem se acelerando com a proximidade do evento. No final de 2010 ocorreram em são Paulo e no Rio de Janeiro dois eventos importantes, em que se organizou de maneira mais sistemática como iríamos pensar os impactos no Brasil do ponto de vista do enfrentamento da especulação imobiliária tendo em vista os megaeventos. Apoiadores e pessoas que viveram essas experiências em outros contextos se reuniram com diversos atores da sociedade civil para compartilhar esses conhecimentos. A partir dessas reuniões criou-se um encaminhamento para que cada cidade criasse um comitê popular da copa para ter uma unidade no país no que diz respeito a monitorar os impactos e denunciar as violações.

IHU On-Line – Qual o propósito do trabalho dos Comitês Populares da Copa?
Claudia Favaro – Os comitês são locais, onde vários outros grupos da sociedade civil, ONGs, movimentos sociais, universidades, órgãos públicos – como o Ministério Público ou a Defensoria Pública – se organizam e compõem tais entidades nas doze cidades-sede. Eles buscam monitorar os gastos e ser um agente mobilizador da sociedade para garantir que os direitos humanos não sejam violados e que se acelerem em detrimento da organização desses megaeventos, seja ela o que for, Copa do Mundo, Olimpíada e, em Porto Alegre, a questão da Fórmula Indy que está sendo discutida ultimamente. Todos eles têm impactos muito característicos que ocorrem em função dessas violações pela necessidade de reestruturação urbana. Há muitas pessoas que falam que é o momento de repensar a cidade e de fazer grandes obras, mas os comitês questionam esse tipo de projeto de cidade, o que há por trás dessa proposta toda e quem paga a conta depois. Resumindo, a proposta do comitê é articular os atingidos, as monitoras, as violações e dar voz aos mais variados setores, principalmente os mais vulneráveis.

IHU On-Line – Quais são as principais demandas dos Comitês Populares da Copa?
Claudia Favaro – As violações se dão nas mais variadas esferas, e uma das principais são as remoções forçadas em detrimento das obras de infraestrutura. Nosso cálculo aponta que mais de 200 mil pessoas serão removidas no Brasil em função dos megaeventos. Esse número dá conta também das pessoas que foram ameaçadas, mas que em algum momento realizaram resistência e o governo recuou. Além disso, tem a questão da criança e do adolescente; do tráfico de pessoas, que se intensifica muito; a questão da prostituição e da violação das mulheres, sobretudo no Nordeste; a questão do trabalho, onde, segundo a Lei Geral da Copa, os trabalhadores informais não podem ter sua fonte de renda, o que prejudica uma camada da sociedade; os trabalhadores formais da construção civil, que trabalham em jornadas muito extensas e que não têm o reconhecimento financeiro merecido – muitas greves ocorreram e, até mortes, devido a toda uma precarização que não é tratada nos meios de comunicação. 
A violência institucional no que diz respeito às forças de segurança. Tem uma lei muito preocupante, que é a chamada lei do terrorismo. A repressão nas cidades está se agravando muito. Percebemos isso em Porto Alegre, mas no Rio de Janeiro e São Paulo também está endurecendo. O direito do cidadão de se manifestar está sendo colocado como crime. Então, nossa democracia está sendo posta em dúvida. 

IHU On-Line – Quem está em situação de maior vulnerabilidade diante dos grandes projetos do Estado para a realização desses megaeventos, como Copa e Olimpíada?
Claudia Favaro – São as pessoas que moram na cidade informal, que adquiriram um espaço na cidade para sobreviver e terem suas rendas, mas que são de fatos informais, pois não têm o título da terra, mas que moram nos locais a mais de 30 ou 40 anos. Já existem leis previstas que garantem o direito à propriedade dessas pessoas e, mesmo assim, estão sendo removidas de forma violenta, porque não lhes dão alternativa. Ainda há as pessoas que vivem nas ruas; a higienização e elitização dos espaços públicos só fazem com as que as pessoas com mais acessos é que tenham direito ao espaço coletivo onde a cidade passa a selecionar quem participa e quem não participa dela. Quem realmente está sendo mais atingido é a população mais pobre. É claro que alguém vai ganhar com Copa, haverão oportunidades sendo geradas, virão turistas, mas o que vai gerar é do ponto de vista do capital, econômico e concentrado.

IHU On-Line – Quais foram as principais conquistas até este momento?
Claudia Favaro – Em Porto Alegre, creio que conseguimos avançar em muitos pontos, sobretudo no que se refere ao debate. Penso que a cidade toda está discutindo a questão da Copa e isso para nós é uma vitória. Passamos muito tempo debatendo com os próprios grupos, sobre as mais variadas pautas, fazendo com que ele entendessem que esse processo irá se acelerar. Na avenida Tronco, em Porto Alegre, por exemplo, a prefeitura sempre disse que não haveria como deixar as famílias e que havia a necessidade de removê-las para pontos distantes da cidade, nos condomínios habitacionais do Minha Casa, Minha Vida em zonas periféricas. Essa era a solução inicial. Aprovaram-se e alteraram-se leis para que isso fosse possível. O comitê, então, para fazer uma contestação, indicou outras áreas no entorno da avenida para reassentamento. Isso foi uma conquista importante, pois não houve deslocamento e essa postura traz dignidade para as pessoas. O problema é que nenhum tijolo foi construído nesses terrenos ainda. A licitação foi feita há mais de um ano, mas nada avançou e a prefeitura vai para cima das famílias oferecendo aluguel social, que são políticas que não resolvem os problemas e as violações se dão nesse espaço, nas alternativas que são dadas às pessoas. Sem contar a falta de diálogo. Então, cada recuo da prefeitura é um conquista nossa, porque nunca houve diálogo para chamar esses projetos, sempre foi na base do Ministério Público, do fechar a rua, mas que representam uma série de pequenas vitórias e que mantiveram a chama acesa até agora. A Lei Geral da Copa, embora tenha havido algumas sutis e importantes mudanças, continua sendo uma vergonha para o país. É inadmissível que um presidente assine uma coisa dessas sem consultar nenhuma das esferas democráticas do Estado.

IHU On-Line – Que desafios se delineiam nos próximos dois anos até a realização dos jogos? 
Claudia Favaro – O principal desafio é manter-se vivo, manter-se na resistência. Os momentos que chegam são tenebrosos, basta ver o que aconteceu com as árvores em Porto Alegre com a prisão dos meninos e meninas que tentaram impedir o corte. A polícia está cada vez mais violenta, a repressão às manifestações está cada vez mais intensa. Diálogo com os entes e esferas públicas que não houve até agora não vai ter. Houve em Porto Alegre uma aproximação importante da Defensoria Pública, que criou uma comissão interna para tratar disso. Então, a dificuldade financeira que tínhamos para contratar advogados para contestar os pedidos de despejo e remoção, por exemplo, foi solucionada, sem contar que será importante para os próximos passos na questão jurídica. Mais do que tudo isso, nosso desafio é se manter em pé e mobilizar a sociedade em torno de tudo que está acontecendo no país, que não é uma coisa tão tranquila, porque são hectares de terras passados à iniciativa privada, enquanto as escolas estão caindo aos pedaços.
Além de tudo isso, o aumento do endividamento dos municípios vai gerar uma dívida que levará anos e anos para ser paga. E quem vai pagar por isso é a população mais vulnerável que lá na ponta precisa de creche, de escola. Há também a precarização do trabalho e a degradação do serviço público. 

IHU On-Line – De que maneira interesses públicos e privados se relacionam neste contexto?
Claudia Favaro – Os interesses convergem para um mesmo local, o “desenvolvimento”. O desenvolvimento é importante, mas ele tem que ser redistributivo, tem que ser inclusivo, tem que ser um desenvolvimento para integrar as pessoas. Porém, quem está ganhando até agora com esse desenvolvimento é o capital privado. O Estado, mais que em qualquer outro momento, está operando sua máquina para fazer valer as exigências de uma empresa privada como a Fifa. Para isso o Estado abre mão de diversas leis.

IHU On-Line – Quais foram os principais abusos identificados pelo Comitê?
Claudia Favaro – A entrega de áreas públicas à inciativa privada, pois onera o Estado. A questão das remoções e a forma como o Estado tem feito isso. Por exemplo, sabemos que a ampliação da avenida Tronco, em Porto Alegre, está relacionada não à questão de mobilidade urbana, mas para facilitar o escoamento dos entulhos da implosão do estádio Olímpico e para a construção das torres da OAS, que não interessa à população. A violência institucional está desleal. Tivemos um despejo violentíssimo na avenida Padre Cacique, com atiradores de elite e o Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, fazendo uma pressão terrível ao vivente que estava dentro daquela casa, seja pelo motivo que for: é desproporcional. Tem também a privatização dos espaços públicos, a repressão aos artistas e moradores de rua. Lembro que há dois anos, quando os moradores de rua moravam embaixo do viaduto Otávio Rocha, em Porto Alegre, a prefeitura lavava as paredes com jatos de água sem pedir para que eles saíssem e molhavam todas as suas coisas.

Corte de árvores

A medida adotada pela prefeitura com o corte de árvores não á solução para o problema de mobilidade da cidade. O que melhora de fato é tratar de dar condições de as pessoas circularem sem a necessidade do automóvel. Podem-se construir quantas pistas forem necessárias, que em algum momento elas vão se tornar saturadas. E, na verdade, a construção de seis pistas nem é para os carros, mas para a Fórmula Indy, que foi assinado um contrato com o governo municipal e estadual. Então, a derrubada das árvores é para a Copa, mas é para estes eventos também. Essas seis pistas que serão construídas vão afastar cada vez mais o povo do Guaíba. Já existe o muro. Agora vamos colocar mais uma avenida para chegar lá somente quem está de carro. Essa é outra forma de ver a cidade e de “desintegrá-la” à cidade.